“O carnaval no Rio é o acontecimento religioso da raça”. O poeta Oswald de Andrade escreveu no Manifesto Pau-Brasil, em 1924. O ambiente para esta afirmação era oportuno. Esse período relacionado aos anos 1920 foi marcado pelo lançamento do Modernismo e anunciava grandes transformações em que cada grupo, cada indivíduo, valorizavam suas identidades.
Neste contexto, o samba carioca representado pela Mangueira, pela Portela e pelos talentos de Donga e Sinhô era sinônimo de Brasil. Na época, Noel Rosa e Aracy de Almeida eram adolescentes; ele com 14 anos de idade, ela com 10. Em Vila Isabel, Noel estudava música enquanto sonhava com a carreira na medicina; já no Encantado, Aracy cantava no coro da igreja.
Mestre em transformar o cotidiano carioca em poesia, Noel andou esquecido após a morte aos 26 anos, em 1937. Nessa época, Aracy cantava na boate Vogue em Copacabana, e a obra de Noel não era destaque no repertório dela. Apenas entre 1950 e 1951 gravou dois álbuns dedicados ao “Poeta da Vila” e, a partir daí, ao lado de Marília Baptista ou a ser a voz feminina dos sambas de Noel.
Esta dedicação de “Araca”, como era conhecida pelos amigos, criou um dos mistérios mais insondáveis da MPB que Aracy nunca se preocupou em esclarecer: havia paixão entre eles ou a atração era apenas musical. Quem arrisca um palpite?
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