Em 1966, num especial da TV Record, Wilson Simonal cantou Tributo a Martin Luther King, parceria dele com Ronaldo Bôscoli, e ofereceu a canção ao filho Simoninha, com dois anos de idade. O que poderia ser uma simples dedicatória, na verdade foi recebida por Simoninha como uma carta-compromisso que o ligava para sempre à memória do pai.
Este tipo de transferência de heranças é comum na MPB. Gonzagão e Gonzaguinha é o modelo clássico, embora suas carreiras, separadas durante muitos anos, só se estreitaram no fim da vida de Gonzaga pai. João Nogueira e Diogo; Elis Regina e Maria Rita; Chico Mário e Marcos Souza são casos mais próximos de Simonal e Simoninha, em que o pai parece descer o filho do colo, entregar-lhe a estrada pronta e só pedir que siga em frente.
As épocas em que Simonal construiu a carreira – entre os anos 60 e 70 – e Simoninha, que foi saudado como produtor e compositor talentoso, no CD de estreia, em 2002, são muito diferentes. Simonal foi um dos artistas mais talentosos e bem pagos da sua época. Cantava num inglês impecável, como se exigia de um bom cantor de boate, e tinha tanta personalidade que gravou Bossa-Nova; viu ar por ele a Jovem-Guarda e a Tropicália e manteve a marca Simonal.
Irônico e irreverente, Simonal lançou moda, criou gírias e, num lance de genialidade, quando a MPB acertava os os com o óbvio popularizando a marcha A Banda, de Chico Buarque, ele criou a Turma da Pilantragem. Apesar de reunir Carlos Imperial, Nonato Buzar e César Camargo Mariano, quem na verdade mobilizava e assumia a Pilantragem era Simonal.
Tanta exposição despertou invejas e motivou covardias. Com seu trabalho, Simoninha reabilita o lado mais irreverente e criativo do pai.
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