Como parte da retrospectiva de 2004, o Repórter Brasil Tarde está realizando uma série de entrevistas sobre os fatos que mercaram o ano e que terão repercussão em 2025. O tópico desta edição são os conflitos no Oriente Médio, que começaram com a guerra entre Israel e o grupo Hezbollah, e se expandiram com os ataques no Líbano e no Irã. E, mais recentemente, a queda do ditador Bashar al-Assad, na Síria, trouxe mais instabilidade à região. O convidado para falar sobre o tema é Fernando Brancoli, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
O professor pontua que o conflito, que inicialmente era a palestinos e israelenses, tornou-se uma guerra regional, envolvendo Irã, Síria e Líbano. E ainda se tornou mais amplo, com a participação de atores globais como Rússia, Estados Unidos e Arábia Saudita. Essa escalada gera impactos econômicos globais, como o aumento dos preços do petróleo e dos alimentos, além de afetar diretamente as populações civis da região.
Fernando Brancoli explica que ainda não está claro se Israel pretende deixar a Faixa de Gaza após o término do conflito. Então fica a dúvida se a ofensiva tem somente relação com a segurança de Israel ou se o governo de Benjamin Netanyahu vai se aproveitar desse movimento para expandir territorialmente e ganhar mais espaço para o país.
O professor ressalta que a crise humanitária em Gaza é uma das piores já registradas, com 100% da população vivendo em insegurança alimentar. A reconstrução da região é estimada em US$ 3 bilhões de dólares e levaria pelo menos quatro anos para ser concluída, mas não há sinais de que ela começará em breve. A falta de acordos de paz e mediação internacional agrava a situação.
Paralelamente, houve na Síria a queda de Bashar al-Assad. O fato não tem relação direta com a política de Israel mas, de certa forma, dialoga com suas intenções, porque nesse contexto entram as discussões sobre a ocupação das Colinas de Golã. Segundo o direito internacional, essa região é parte da Síria. Mas na década de 80 Israel entrou em conflito com aquele país, e desde então ocupa o espaço. Fernando Brancoli acredita que dificilmente o governo de Netanyahu sairá de lá, porque parte importante do abastecimento de água de Israel vem de rios que nascem nessas colinas. Então, dentro desse cálculo, dificilmente os israelenses deixariam uma região que abastece a água do seu território nas mãos de um inimigo. A incerteza sobre o futuro político da Síria dificulta negociações e aumenta as tensões, especialmente em áreas de fronteira.
Já para o Irã, o professor de Relações Internacionais explica que, com o enfraquecimento de aliados como o Hezbollah, Hamas e Assad, além de ataques pontuais trocados com Israel, o cenário para 2025 parece ainda mais complicado para o país, principalmente com a chegada de Donald Trump à presidência dos EUA
Sobre o Brasil, Fernando Brancoli explica que, embora distante, o país é afetado pelos desdobramentos do conflito, seja pelo aumento dos preços do petróleo, seja pela questão migratória. O Brasil tem sido convidado para participar de processos de reconstrução no Oriente Médio devido à sua expertise em programas sociais, saneamento básico e microcrédito, sendo reconhecido como um possível parceiro em iniciativas humanitárias.
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