O Brasil vive o que os especialistas vêm chamando de transição religiosa. Uma mudança que acontece de forma exponencial. Na década de 1970, 90% da população do país era católica, enquanto os evangélicos somavam pouco mais de 5%. Em 2010, os católicos eram 64,6%, contra 22,2% de evangélicos.
Os dados sobre religião do Censo de 2022 ainda não foram divulgados, mas a expectativa é de um crescimento ainda maior dos evangélicos, apontando para uma inversão em 2030. Em apenas seis décadas, podemos experimentar uma transformação social sem precedentes na história do país. Seremos uma nação de maioria evangélica?
Em meio a essa revolução social, a jornalista Luciana Barreto visitou diversas igrejas, de denominações diferentes, e entrevistou homens, mulheres, jovens e idosos que se encontraram na fé evangélica e fizeram da religião um norte para suas vidas.
Na Igreja pentecostal Assembleia de Deus Ministério Monte do Fogo Puro, localizada no município de Queimados, no Rio de Janeiro, Luciana conversou com a pastora Roberta Costa Bernardo, além da missionária Catarine da Costa e da diaconisa Vanessa Rodrigues. Para a jornalista, “não é exagero dizer que muitas vezes essas igrejas fazem o trabalho do poder público. Essas são as igrejas mais próximas das pessoas, resolvendo os problemas sociais da comunidade, muitas vezes, até ajuda econômica”.
O teólogo Ronilso Pacheco explica que “a presença da mulher evangélica no universo evangélico brasileiro é muito forte e muito significativa. Em muitas periferias, por exemplo, elas carregam a comunidade nas costas. É quem faz grande parte do trabalho, desde a cantina, a faxina, às ações sociais da Igreja”. Hoje, Vanessa diz “servir” a Igreja e se emociona ao relembrar do começo: “Eu tinha 19 anos e estava com a minha vida toda desestruturada. Conversei com a pastora Roberta e falei como estava a minha vida e eles me abraçaram”.
O universo pentecostal representa 60% dos evangélicos, de acordo com o Censo de 2010. Já a neopentecostal não entra na classificação por ser considerada “uma categoria sociológica que foi apreendida por pesquisadores, sendo somente suma forma de explicar as diversas fases do pentecostalismo no Brasil”, como explica Ronilso Pacheco.Das outras denominações, 18,5% são evangélicos de missão e 21,8 %, não determinados. As igrejas evangélicos de missão são as protestantes históricas, como as Luteranas, Batistas, Presbiterianas, Metodistas e Episcopais.
Ivan é pastor e o único negro a ocupar o posto na Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro: “É uma alegria fazer parte dessa história e sei que muitas pessoas ficam felizes por essa inclusão que a Igreja faz de aceitação e percepção de que há pessoas de valor e com capacidade de conduzir em todas as raças”.
Marco Davi está à frente da Nossa Igreja Brasileira, que faz parte do movimento progressista dentro da religião evangélica. Para ele, “a fé ela tem que se manifestar na história. Ela não é algo etéreo, abstrato. A fé tem que produzir transformação social e justiça social”. Ronilso explica que essas são igrejas que “se aproximam de uma perspectiva mais democrática, mais em defesa de direitos humanos, em respeito às liberdades individuais, à diversidade e à pluralidade da sociedade".
O grupo Novas Narrativas é formado, em sua maioria, por jovens cristãos que também se conectam com essa vertente progressista. Somos “um movimento que quer construir espiritualidades plurais pra gerar transformação social”, explica Luciana Petersen, uma das integrantes. O grupo está longe de falar por e para todos os jovens evangélicos, que representam uma parcela significativa dentro da religião. O universo é plural, ativo e pulsante.
Entre os jovens evangélicos, a maioria faz parte das classes mais baixas e é filiada às igrejas pentecostais. Em uma pesquisa realizada em 2020, aproximadamente, 12,4 milhões de pessoas entre 16 a 24 anos se declararam evangélicos. E 13,7 milhões católicos. Os dados chamam a atenção. Como a proporção de católicos é maior que a de evangélicos, em poucas décadas poderemos também ter uma maioria evangélica entre os jovens brasileiros.
Sem a pretensão de trazer respostas, o programa levanta reflexões sobre o crescimento da religião evangélica no Brasil, que vem ganhando cada vez mais espaço e avançando em número de fiéis em um país historicamente católico.
Ficha Técnica
reportagem – Luciana Barreto
roteiro - Luciana Barreto e Luciana Góes
edição de texto e produção - Luciana Góes
edição e finalização de imagem - Mauro Fernandes
reportagem cinematográfica RJ - Ronaldo Parra, Marcelo Padovan, Luís Araujo, Gabriel Penchel e Edina Girardi
auxílio técnico - Yuri Freire e Caio Araujo
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