Todo dia 23 de abril o Rio de Janeiro se tinge de vermelho e branco nas homenagens ao Santo Guerreiro. Católicos, umbandistas e candomblecistas participam da Festa de São Jorge. Além dos cultos religiosos, fazem parte da tradição as rodas de samba e a feijoada. Esta forma de festejar “revela muitos elementos de uma sociabilidade carioca”, avalia a professora de Antropologia da Universidade Federal Fluminense, Ana Paula Miranda.
A maior aglomeração de devotos ocorre na Igreja Matriz de São Jorge em Quintino Bocaiuva, na Zona Norte, onde a equipe do Caminhos da Reportagem acompanhou a festa. De acordo com as estimativas da paróquia, mais de 1,2 milhão de pessoas aram por lá.
Segundo a Igreja Católica, São Jorge nasceu na Capadócia (Turquia) e se tornou um soldado romano. Quando o imperador Diocleciano começou a perseguir os cristãos, ele teria se recusado a abandonar a sua fé e foi decapitado no dia 23 de abril.
O culto chegou ao Brasil com os portugueses e foi impactado pela religiosidade de povos africanos, o que contribuiu para a popularidade de São Jorge, como explica o historiador Luiz Antonio Simas.
No período em que as religiões africanas eram proibidas, no Rio de Janeiro, São Jorge foi assimilado ao orixá Ogum, guerreiro ligado às artes do ferro e às tecnologias. Mãe Marcelle, da Tenda Umbandista União dos Filhos de Santa Bárbara, entende que é possível pensar o sincretismo a partir da privação do culto à ancestralidade, mas também pela ótica da resistência dos africanos em diáspora para garantir a prática da sua fé.
O babalorixá Adailton de Ogum do Ilê Axé Omiojúàró conta que ira a festa popular no dia de São Jorge. “É o povo que faz o seu louvor, a sua confraternização. Eles sabem que é São Jorge, mas eles estão ali também por Ogum, no Rio de Janeiro, e por Oxóssi, na Bahia. Eu acho muito lindo como a gente nesse momento consegue conviver de forma harmônica. É um dos poucos momentos.”
São Jorge é padroeiro de várias escolas de samba, entre elas, a Império Serrano, que tem sede em Madureira, na Zona Norte do Rio de Janeiro. O cantor e compositor Jorginho do Império, filho de um dos fundadores, Mano Décio da Viola, conta que não sai de casa sem pedir a bênção do santo protetor. “São Jorge é o nosso feijão com arroz”, afirma.
Devoto fervoroso, o ator Nando Cunha organiza uma feijoada beneficente no dia de São Jorge há quase duas décadas. “Ele é um cara que está sentado no trem junto com você. Ele é um cara que vai beber cerveja junto com você, ele vai estar na missa junto com você. Ele está do seu ladinho. São Jorge é diferente pra caramba. Por isso a gente faz festa para louvar ele, para louvar a vida.”
Ficha técnica
agradecimentos - Beco do Rato ; Juliana D os - Ponto de Ogum; Terreiro de Maria Padilha Rainha do Cruzeiro das Almas
reportagem - Ana os
produção - Carol Oliveira
apoio à produção - Anna Karina de Carvalho
reportagem cinematográfica - Sandro Tebaldi
apoio à reportagem cinematográfica - Marcio de Andrade
auxílio técnico - Yuri Freire
edição de texto - Ana os
edição de imagem e finalização - Eric Gusmão
arte - Aleixo Leite, Caroline Ramos, Wagner Maia
intérprete de Libras - Jhonatas Narciso
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